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Mulheres centenárias de Douradina são exemplos de coragem, luta e perseverança

Essas duas mulheres são exemplos a serem seguidos e apreciados, por homens e mulheres, jovens e não tão jovens, que esperam poder ter uma vida longa e saudável.

Publicado em 09/03/2015 às 02:13

Em tempos onde a busca pela beleza e pela longevidade estão cada vez em maior evidência, duas mulheres são exemplos de força, luta e perseverança. São senhoras centenárias, que podem ser consideradas duas das pessoas mais velhas do mundo, que com pouco dinheiro e muita coragem e sacrifício, saíram da terra do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, no Ceará. Escolheram como lar uma cidade pequena, com 8.120 habitantes, segundo dados do IBGE em 2014, a pouco mais de 60 km de Umuarama. 

Em Douradina, essas duas juarenses chegaram há mais de 40 anos, quando a cidade ainda era distrito. Elas não se conhecem, mas essas duas nordestinas têm em comum, além da cidade de nascimento e de destino, o sobrenome. As duas assinam “Conceição”. E o nome não poderia ser mais propício, pois significa ‘concepção ’ da vida. E ao chegaram os 115 e aos 107 anos, elas demonstram que a vida pode ser muito longa e, rica de histórias.

Conceição 
Nasceram no século passado, em 1.900 e 1.907, respectivamente. Dona Filomena Maria da Conceição, 115 anos, completados na última sexta-feira e Dona Quitéria Maria da Conceição, 107 anos, que terá festa em novembro, cresceram e viveram suas vidas tirando o sustento da roça. Também são testemunhas anônimas de fatos marcantes da nossa história recente, sem que isso fizesse muita diferença no dia-a-dia das duas, como de tantos brasileiros, de modo consciente. 

Quando nasceram, a mulher ainda não votava. Apenas em 1.933 é que houve a conquista do direito de votar e ser votada. Passaram por duas Guerras Mundiais, pelo período negro da ditadura em nosso país. A chegada do homem a lua e pela luta mundial das feministas pelas conquistas de direitos igualitários entre homens e mulheres. Episódio de protesto, foi a queima de sutiens como forma de protesto em 1968, nos Estados Unidos. 

Muitos desses fatos devem ter ouvido e visto no rádio e na televisão, que elas também viram nascer. Como tantos outros, ouviam as notícias, músicas e as famosas rádio-novelas pelas ondas do rádio. Na televisão viram toda a evolução, desde quando surgiu no preto e branco, quando passou a ser em cores e mais recentemente, com monitores cada vez mais finos e de alta tecnologia. 

Mas recentemente, surgiu a internet, não deve fazer sentido para elas, mas é considerado ‘vital’ por netos e bisnetos. Vivemos a era da globalização e essas duas mulheres simples têm a receita que tantos buscam, com o investimento de tempo e dinheiro. O segredo de se viver muito e bem.

Segredo da longevidade
Para Filomena Maria da Conceição, 115 anos, ou simplesmente dona Filó, não pode beber bebida alcoólica e nem fumar se quiser viver muito. E a comida? “Livrando do zar o arubu e do chão o cururu”, tudo é permitido. Mas a matriarca tem suas preferências. A asa do frango e o leite em pó com café são duas das iguarias apreciadas por essa mulher guerreira, que tem como saudade o trabalho na roça, de onde tirou o sustento toda a sua vida. 

Ela chegou à Douradina em cima de um pau-de-arara com três dos cinco filhos a tiracolo. Foram quase três mil quilômetros em uma viagem longa e difícil. Teve até tombamento que atrasou a chegada. Mas conseguiram. E o trabalho foi na terra. 

Dona Filó, já não tem a disposição de anos passados, mas com sua fé em Nossa Senhora Aparecida continua firme e com a esperança de rever todos os filhos. Duas filhas ficaram desaparecidas por 59 anos. Elas foram criadas pelo pai, em Juazeiro do Norte, quando dona Filó se separou e veio buscar uma vida melhor no Paraná. 

Tanta oração foi recompensada. Há um mês, Josenilda Martins da Silva, 63 anos, foi localizada no Rio de Janeiro. E na última quinta-feira, houve o reencontro entre mãe e filha. “Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida”, relatou Josenilda, próxima a sua mãe. Para dona Filó, foi um ‘presentão’ de aniversário. “Ganhei mais netos também”, disse aos lados dos outros filhos, Maria, Tereza e Antônio. Mas a busca continua. Ainda falta uma filha para deixar a felicidade completa. 

Mas a vida continuou e dona Filó criou os filhos e viu a família crescer. E como Abraão, a descendência foi longa e grande. São 40 netos, 17 bisnetos e até agora quatro tataranetos. A maior parte esteve com ela na última sexta-feira, para ajudar a apagar as velinhas por mais um ano de vida.

Literatura de Cordel
“Quando eu morrer, me enterre no seu terreiro e com um dedo de fora para eu cantar no seu pandeiro”. É assim, com rimas da literatura de cordel, aprendidas ou inventadas é que Dona Quitéria Maria da Conceição, 107 anos, passa boa parte do tempo. Segundo a neta Maira Regina da Silva Almeida, 24 anos, a centenária canta o tempo todo ‘músicas’ que mais ninguém conhece. E também gosta de um cochilo no meio do dia, para manter as forças. 

Alegre e faladeira, dona Quitéria tem dificuldade para escutar, mas conversa e conversa. Tanta energia, que contagia quem está ao seu lado. A primeira pergunta que faz é “Você vem no meu aniversário, menina?”. Respondo. “Claro, basta me convidar. E quantos anos vai fazer?”. Ela responde que perdeu a conta e quando a nora, Afonsina Luzia da Silva, 83 anos, ajuda na resposta dizendo que são 107 anos, dona Quitéria se espanta e pergunta “Cento e dezessete?”. 

Lembra que teve 13 filhos, sendo dois ‘geminho’. Os netos contados aqui no Paraná são 24, além de 27 bisnetos e 11 tataranetos. Isso só de dois filhos. Dos demais, perdeu contato quando veio para o Paraná, trazida quando ficou viúva por um dos filhos. “O restante ficou no norte”, lembra. 

Mas nem a ausência tira a alegria dessa senhora que adora tomar um café. Antes de chegar ao Paraná, teve andanças pelo interior de São Paulo. Foram 20 anos naquele estado buscando uma vida melhor para ela e os filhos. Dengosa, só aceita levantar da cadeira para ir em outro local da casa fazer uma foto com os parentes depois de muito agrado. 

“Ela é assim, manhosa. Gosta de ser agradada”, relata a nora Afonsina, que junto com duas filhas, cuida da sogra. Questionada se brigam, com risadas Afonsina relata que o tempo todo, mas que tudo se resolve. 

A saúde, vai bem, obrigado. Basta tomar os remédios da pressão e do coração. “O médico sempre pergunta para ela o que ta fazendo lá (consultório)”, relata com bom humor a nora. E o segredo de dona Quitéria é o mucilon, com banana e laranja, além de muito leite. “É muito bom comer mucilon”, afirmou. 

No último dia 8 de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Mulher, essas duas mulheres são exemplos a serem seguidos e apreciados, por homens e mulheres, jovens e não tão jovens, que esperam poder ter uma vida longa e saudável. A elas, nossos cumprimentos por conseguirem viver tanto e ainda conservar a inocência e a alegria, que muitas vezes esquecemos que existe no meio de tantos compromissos em nossa rotina.

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