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Querência do Norte vira reduto de ginseng, planta usada contra diabetes e câncer

Publicado em 28/07/2017 às 07:01

O município de Querência do Norte, no Noroeste do Paraná, é o reduto do ginseng brasileiro. Por seus 914 quilômetros quadrados repletos de terra úmida, a planta medicinal impera principalmente nas ilhas e várzeas do Rio Paraná, o segundo maior rio da América do Sul, localizado bem próximo ao pequeno município com pouco mais de 12 mil habitantes.
 
A planta, no entanto, só começou a gerar negócios na região no final da década de 90, quando os agricultores locais se juntaram a pesquisadores e técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), liderados por Cirino Corrêa Júnior, coordenador estadual de plantas potenciais, medicinais e aromáticas da entidade.
 
“Ao chegarmos ao município, identificamos a planta e incentivamos o cultivo e a retirada de forma correta, sempre respeitando o meio ambiente e a preservação da espécie”, conta Corrêa Junior, que escreveu uma tese sobre o tema, enquanto fazia seu doutorado na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp (universidade de São Paulo).
 
Até então, os coletores utilizavam fogo para queimar a vegetação que escondia o ginseng, uma vez que a mata precisa estar limpa para que ele possa ser retirado. A prática da queimada, além de crime ambiental, estava colocando a planta em risco de extinção.
 
NEGÓCIOS - Em 2005, após o apoio da Emater, os agricultores da região fundaram a Aspag (Associação de Pequenos Produtores de Ginseng de Querência do Norte), com o objetivo de produzir ginseng orgânico e sustentável. “Começamos a profissionalizar a cultura aqui na região”, diz o sócio-diretor da entidade, Misael Jefferson Nobre.
 
No ano de 2015, segundo levantamento do Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a produção da raiz foi de 225 mil quilos – montante 89% superior ao registrado no ano anterior. Naquele ano, a movimentação gerou R$ 675 mil em negócios para os produtores rurais.
 
O ginseng brasileiro atraiu inclusive compradores de países europeus e asiáticos. A França, por exemplo, adquire três toneladas por ano do produto, enquanto o Japão cerca de uma tonelada. Em setembro deste ano, uma comitiva chinesa fará uma visita em Querência de Norte. “É mais uma chance de mostrarmos a qualidade do nosso produto para compradores de outro país”, conta Nobre.
 
QUALIDADE – O produtor relata, todo orgulhoso, que o ginseng produzido em Querência do Norte, também conhecido pelos nomes de batata-do-mato, corango, corrente, sempre-viva e paratudo, é o melhor do Brasil. “É puro e feito apenas com a raiz da planta, local onde está concentrado o seu poder”, diz.
 
Para saber se é realmente puro, continua Nobre, a planta tem que ser bem amarela. “Quando tem baixa qualidade, por causa da presença do caule e das folhas da planta, ela fica esbranquiçada e amarronzada”, acrescenta.
 
IMBRÓGLIO - A comercialização poderia melhorar se o ginseng brasileiro fosse reconhecido como planta medicinal, diz o técnico agrícola da Emater-PR, Wesley Santa Passo. “Para tanto seria necessário uma pesquisa de uma instituição científica, mas como o mercado é pequeno e ainda não gera tanto lucro, nenhuma universidade fez ainda”, afirma.
 
Hoje, os produtores dependem de atravessadores para venderem seus produtos em território nacional ou internacional.
 
Ginseng e a medicina popular
 
O ginseng brasileiro, que tem nome científico de Pfaffia glomerata, é utilizado há séculos pelos índios brasileiros. Suas raízes são usadas principalmente como tônicas e para evitar várias doenças, como diabetes, câncer e tumores, relata Corrêa Júnior, da Emater.
 
A planta só teve seus benefícios cientificamente comprovados, segundo Corrêa Júnior, após estudos feitos por pesquisadores asiáticos nas décadas de 80 e 90. “Verificou-se que a raiz da planta tem componentes que atuam na regeneração das células, na purificação do sangue e na regularização das funções hormonais e sexuais, por exemplo”.
 
De acordo com ele, das 31 espécies encontradas na América Central e do Sul, 21 estão no Brasil. “Nosso País é o mais importante centro de coleta de espécies deste gênero”, acrescenta Corrêa Júnior.

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