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Nova Esperança

Jovens se casam em asilo: 'Senti o amor mais perto de mim', diz idoso

Cerimônia simbólica realizada antes do casamento oficial foi no Asilo São Vicente de Paulo, em Nova Esperança.

Publicado em 10/03/2018 às 08:14
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A cerimônia, que antecedeu o casamento oficial, foi no fim de janeiro de 2017, mas viralizou no Facebook um mês depois, após uma postagem na página oficial da entidade. (Foto: Dalton Castro/Reprodução)

Dois jovens voluntários decidiram unir a paixão de um pelo outro ao amor incondicional que têm por idosos e se casaram no Asilo São Vicente de Paulo, em Nova Esperança, no noroeste do Paraná, com direito a juiz de paz diferente: um dos moradores do local.

A cerimônia, que antecedeu o casamento oficial, foi no fim de janeiro de 2017, mas viralizou no Facebook um mês depois, após uma postagem na página oficial da entidade. Até a noite de sexta-feira (9), a publicação tinha mais de 6,3 mil interações na rede social.

Durante quatro anos, o dentista Douglas Soares Medina, de 24 anos, passou religiosamente o intervalo para o almoço da clínica em que trabalhava, ainda como estudante, todas às quintas-feiras, visitando o asilo.

"Eu sentia vontade de ajudar as pessoas, mas não sabia exatamente o que fazer. Como sou evangélico, resolvi pedir a Deus que mostrasse um caminho. Até que um dia senti o desejo forte de visitar o asilo", conta.

Sem saber como inicar as visitas, ele ligou no local e combinou a primeira ida. Decidido, o rapaz juntou um saco de doces e partiu fazer a visita.


"Cheguei abraçando todos. Aí me deparei com uma senhorinha muito educada, que já faleceu, e acariciei o rosto dela. Ela contou que estava com tanta saudade do neto e que por eu ser parecido tinha matado a saudade", recorda.

Dali em diante, só parou após a recente mudança para Cascavel, no oeste do estado, onde a mulher Bianca Arnoni Lopes, de 25 anos, estuda medicina. "Eu cantava hinos da igreja e fazia orações com eles e os funcionários", afirma.

O casamento

O casamento fecharia um ciclo na vida de Douglas em Nova Esperança. A primeira ideia foi levar os idosos para o casamento oficial, o que se mostrou inviável, segundo ele. Até que Douglas e a noiva decidiram fazer uma cerimônia alternativa no asilo.

Ele, então, avisou a direção e os idosos, correu atrás da decoração, pediu um bolo para uma tia, comprou flores, contratou um fotógrafo e organizou uma cerimônia retrô, que teve até um Fusca conseguido na última hora.


O vestido da noiva, herdado de uma tia, era mais velho do que ela. Bianca, que tinha exames da faculdade para fazer numa segunda-feira, pegou dois ônibus para o noroeste do estado, numa sexta, deixou as tensões e o cansaço de lado para fazer algo que, segundo ela, faria outras mil vezes.

O juiz de paz, Natanael Carraro, de 72 anos, não quis nem saber do texto preparado para ler na cerimônia. Ele, que diz ter se sentido importante, levou o momento na raça e sem conseguir disfarçar a emoção.


"Chorei. Senti o amor mais perto de mim. Gostei muito do que o Douglas fez. Ninguém faz pro asilo o que ele fez. Nossa relação é bem próxima e diferente. Gosto muito dele e da noiva", afirma "seo" Natal.

A noiva entrou com "seo" Benedito. As alianças foram carregadas por Afonso, que não anda mais, mas que foi levado por "seo" Alcindo na cadeira de rodas. Ana Rosa de Souza Delmônico, de 88 anos, foi a dama de flores.


"Eu me senti alta. Parecia que tinha saído do chão", revela dona Ana. Segundo ela, o momento de maior emoção foi quando os noivos estavam no altar e ela ao lado. "Lembrei do meu primeiro marido, que eu casei de noiva. Pra mim ele tava junto comigo", conta.

Para o casal, a cerimônia foi tão indescritível quanto a alegria dos idosos – e talvez mais emocionante que a oficial. "Sentimos um amor verdadeiro. Não teve quem não chorou pela pureza deles", diz a noiva. Carol, idosa que é voluntária do asilo, foi quem pegou o buquê – disputado para fotos depois.


'Os velhinhos foram ponto-chave'

Bianca conta que o amor pelos idosos foi ponto-chave para aflorar a paixão do casal. Eles, que sempre frequentaram a mesma denominação religiosa, se conheciam por intermédio de primos do Douglas, que moravam em Cascavel.

A futura médica, que já decidiu que seguirá a geriatria, viu o amor arrebatá-la de vez quando se deparou com uma foto no Facebook de Douglas visitando os idosos no asilo. "Eu acabei de pirar e me apaixonar com aquela foto", recorda, aos risos.

Ao longo do namoro, sempre que possível, Bianca acompanhava Douglas nas visitas. Agora, o casal que mora em Cascavel, diz estar se preparando para começar a frequentar um asilo na cidade. "Onde quer que a gente esteja vamos levar algum tipo de afeto e atenção para eles", garante ela.

Colaboração: G1 Paraná.


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